Decorre na semana de 18 a 22 de
julho a Semana da Leitura. "A Leitura voa nas asas da liberdade" foi o mote deste ano no AEAAG.
No dia 19 de março Alcina
Monteiro e Lurdes Lourenço animarão 4 sessões sobre LEITURA INCLUSIVA levando 4
turmas a descobrir novas maneiras de os alunos com dificuldades acederem a
informações semelhantes às dos alunos sem problemas. Será na ESAAG de manhã e em Santa Clara de tarde. Os alunos do 1º ciclo assistirão também no dia 19 à
sessão “O TESOURO” na BMEL às 10h30.
No dia 21, Dia Mundial da Poesia,
o Birra Produções traz “Uma viagem com Sophia à Escola de Santa Clara. No mesmo
dia a BMEL faz um recital de poesia às 10h30 (“A eternidade num segundo”) para
evocar o Centenário de Natália Correia, com Suzete Marques e Tiago Pereira, participando duas turmas da ESAAG.
No dia 22 os alunos do 2º ciclo
participam na Oficina de Escrita Criativa ”O jogo da história inventada” na
BMEL, com animação de Ana Rita Janeiro.
Durante a Semana, está à
disposição para visitas guiadas a Exposição sobre Eça de Queirós na ESAAG. Os
professores de Português da ESAAG foram também convidados a trabalhar sobre uma
canção de Abril mediante um guião da BE. A Biblioteca da ESAAG expõe ainda livros à volta do 25 de Abril e literatura neorrealista. Finalmente o Blogue
LER É SABER, das BE, continua a publicar as rubricas MÚSICAS DE ABRIL e CORTADO
PELA CENSURA, pondo os jovens a par destas duas temáticas.
Faleceu este domingo, 17 de março, com 74 anos, o poeta Nuno Júdice. Em
muitos dos seus livros fez poesia que poderíamos chamar de autorreflexão e foi
essa poesia, muito em ritmo de prosa poética, que fez o seu êxito pela
diferença. A sua poesia mais recente é mais do âmbito do quotidiano e é
considerada menos original. Nuno Júdice esteve para vir à Guarda e falar aos
alunos das escolas no último ano letivo em ligação com a BMEL e as Bibliotecas
Escolares, tendo acabado por adiar esta vinda por motivos de saúde. Aqui fica
um poema de Nuno Júdice:
A Vida
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
Rafael Ascensão, do projeto CALAFRIO, vai dar voz ao Relatório do Capitão Valente por altura do 25 de Abril de 1974. Trata-se de um relatório relativo ao papel do Regimento de Infantaria 12 (Guarda) nos acontecimentos do 25 de Abril em que o cap. Augusto Monteiro Valente foi protagonista ao se deslocar para Vilar Formoso para fazer a defesa da fronteira.
É uma leitura encenada desse relatório que vai hoje, 16 de março, pelas 16 horas, ser apresentada no Arquivo Distrital da Guarda. A organização é do grupo "Ex-Militares RI12 celebram Abril".
A propósito da Conferência dos Partidos Comunistas dos países capitalistas da Europa, realizada em Bruxelas entre 26 e 28 de janeiro de 1974, o EXPRESSO tentou e conseguiu entrevistar Álvaro Cunhal, secretário geral do Partido Comunista Português, na altura na clandestinidade. Seria a primeira entrevista de Álvaro Cunhal, então com 60 anos,a órgãos de informação portugueses não clandestinos. No entanto a entrevista foi feita, em Bruxelas, sem direito a levar máquina fotográfica, mas não passou no crivo da Censura (Exame Prévio) e não foi assim publicada. Aliás, numa das respostas Álvaro Cunhal referia que tinha "poucas esperanças de que a Censura autorize a publicação”. Havia mais três peças sobre a Conferência mas só uma pequena peça-resumo da Conferência foi autorizada e mesmo esta com uma alteração no título. Em vez de "Os PC europeus à procura de união na Europa capitalista" colocou-se o título: "Os PC europeus à procura de união na 'cimeira' de Bruxelas".
Na altura, na edição do EXPRESSO de 2 de fevereiro de 1974 (dois meses antes do 25 de Abril), Álvaro Cunhal responderia assim à pergunta "O que pensa da situação política portuguesa no momento atual?":
-O Partido Comunista considera que nos aspetos fundamentais da situação portuguesa nada mudou: a política anterior a 1968 continua hoje. É uma política que não corresponde aos interesses do povo português, nem da Nação portuguesa. Só através de uma alteração radical se poderá pôr termo aos problemas económicos, das liberdades, da guerra, da submissão ao estrangeiro. O PC acha necessário trabalhar e lutar. Para tal, é preciso que todas as forças políticas se unam, com vista à luta para solucionar a situação e encaminhar Portugal no caminho do desenvolvimento, da independência e da paz.
Adriano Correia de Oliveira andou nos anos 60 no
círculo de José Afonso, Rui Pato (guitarrista) e António Portugal (cunhado de
Manuel Alegre). Fazia na altura uma espécie de balada sucedânea da canção /
fado de Coimbra mas virada para as letras de qualidade e a afirmação e
contestação política. Saiu assim a “Trova do tempo que passa” que teve um êxito
extraordinário logo em 1963, com poema de Manuel Alegre. Foi tocada pela
primeira vez nesse ano na Faculdade de Medicina de Lisboa. Era, segundo o
guitarrista Rui Pato, “um novo género musical que ainda hoje é conhecido em
Coimbra como a trova”.
Rui Pato refere na Visão-História de outubro /
novembro de 2023 que a experiência de trabalho com Adriano Correia de Oliveira
era muito aliciante, já que a voz dele era qualquer coisa de excecional, era muito
afetivo e disponível. No entanto, ao ser “um amigalhão”, muitas vezes era pouco
disciplinado, tendo sido também atingido pelo alcoolismo, que não conseguia
controlar e que o levou à morte.
A “Trova do Vento que passa” foi escrita por Manuel
Alegre no café Mandarim de Coimbra, ao ver dois pides que ali estavam a
vigiá-lo a ele e a outro. Inventou então aqueles versos, que segredou ao ouvido
de Adriano Correia de Oliveira, que lhe disse que os escrevesse já porque
“esses versos vão ficar para sempre”. Na preparação para a festa de receção aos
caloiros na Fac. Medicina de Lisboa, o António Portugal começou na guitarra a
fazer a música da “Trova” e a canção foi tocada na festa. Manuel Alegre revela
em 2023, 60 anos depois: “Quando o Adriano acabou de cantar, aquilo foi um delírio”.
TROVA DO VENTO QUE PASSA (Manuel Alegre e Adriano C. Oliveira)
A censura no cinema foi muito
forte nas décadas anteriores ao 25 de Abril de 1974.
Logo nos anos 40 do século
passado, o governo proibiu a dobragem de filmes estrangeiros, de forma a
poderem fazer legendagem com tradução diferente das intervenções na língua de
origem. Era estranho, se se dominava a língua original, ver um filme com
legendas diferentes das palavras realmente ditas. Mas os censores confiavam que
poucos saberiam línguas. Em Espanha era pior, porque lá a dobragem impedia os espectadores
de poderem comparar com a língua original. E em Portugal esta medida até
agradou a muitos cinéfilos, que assim gostavam de ouvir os seus atores vedetas sem
interposta pessoa.
Entre muitos filmes, houve alguns
que tiveram a mão da censura. “Lolita”, de Stanley Kubrick, filme de 1962, estreou
em Portugal a 11 de maio de 1972 e mostrava a história de uma relação amorosa
entre um adulto e uma adolescente. “A baixeza do argumento leva-nos a votar
pela reprovação” foi a apreciação da censura e este parecer levou a cortes no
filme. “Drácula, príncipe das trevas” (1966), de Terence Fisher, estreou a 11
de julho de 1980, mas até ao 25 de Abril esteve proibido porque, diz o parecer
da Comissão de Censura, “trata-se de um filme que pretende crer na existência
de vampiros, em que estes aparecem ligados com a religião. Por isso votamos a
sua reprovação”.“O Couraçado Potemkine”,
filme de 1925, de Sergei Eisenstein, esteve também interdito até ao 25 de Abril
de 1974 por ser um filme russo e por retratar uma luta heroica dos soldados
russos na revolução. Este filme, apesar de ser mudo, esgotou salas em maio de
1974. E muitos outros.
“Somos livres”, de Ermelinda Duarte, foi uma das
canções mais populares em Portugal em 1975. Depois de ter sido apresentada numa
peça do Teatro Estúdio de Lisboa (“Lisboa 72/74”), onde a cantora era também
atriz, em finais de 1974, a Valentim de Carvalho propôs a edição em disco. A
sua melodia simples, que entra rapidamente no ouvido, encantou os portugueses e
a melodia foi posteriormente gravada por Tonicha. Mas foi a versão de Ermelinda
Duarte que fez sucesso.
A carreira de Ermelinda Duarte foi relativamente
curta e a atriz enveredou pelo mundo da dobragem de filmes, sobretudo infantis.
Aliás esta música, originalmente a celebrar a liberdade conquista em 1974, é capaz de chegar a diversos públicos, incluindo o universo
infantil, que adere facilmente a esta canção alegre e de mensagem clara e
positiva. Encontramos mesmo no Youtube algumas versões infantis. Reproduzimos aqui uma reação de um pai a esta canção nos comentários do Youtube: “A
minha filha mais nova, de 6 anos, aprendeu esta canção na escola hoje e
cantou-a na viagem para casa. Tive de encostar, pois a emoção tomou conta de mim
e chorei! Somos livres!”.
SOMOS
LIVRES (Ermelinda Duarte)
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
'quando for grande
não vou combater'.
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
António Marques, avô materno e Afonso Reis, avô paterno de Dinis Reis (7º F) explicaram ao neto como correu o 25 de Abril e como escaparam da guerra em África. Muito curiosas estas entrevistas. Vejam este powerpoint.
Eça de Queirós é o centro da exposição de 20 cartazes sobre a vida e obra do escritor, patente no espaço Conhecimento e Memória da ESAAG de 4 a 27 de março. Neste período, a exposição estará aberta a visitas guiadas promovidas pela Biblioteca Escolar, incidindo para já nas turmas do 11º ano, que atualmente trabalham nas aulas o romance “Os Maias”. Mas outras turmas ou alunos, nomeadamente do ensino secundário, poderão visitar a exposição.
A exposição foi oferecida à ESAAG na altura das comemorações dos 100
anos do nascimento do escritor (2000), já que ela assinala este centenário.
Conta lá, avô/avó é o título desta rubrica em vídeo que as Bibliotecas do AEAAG realizam e que se prolongará nos próximos meses. Pretendemos que os netos perguntem aos avós como viveram o dia 25 de Abril de 1974 e que os avós falem sobre o ambiente vivido aqui, em África ou no estrangeiro naquela altura das suas vidas. O objetivo é que, nos 50 anos do 25 de Abril, os jovens não passem ao lado da efeméride.
Desta vez é a vez da avó do Pedro Dias (11º A), Carolina Dias, de 79 anos.
Os alunos do 5° ano já participaram todos na primeira semana do Projeto Escola a Ler. Tranquilos e com bastante interesse iniciaram o projeto com escolhas muito interessantes.
No Estado Novo, a imprensa livre não existia e o
jornalismo propriamente dito também não. Por isso os jornais nacionais ligados
ao regime, nomeadamente o Diário de Notícias (DN) e O Século,
veiculavam a “verdade oficial” e escondiam o que a oposição legal referia,
mesmo quando isso ocorria em sessões públicas.
Foi o que aconteceu quando Humberto Delgado, na sua
primeira conferência de imprensa antes da campanha para as eleições a
Presidente da República em 10 de maio de 1958, respondeu a um jornalista sobre
o que faria de Salazar se ganhasse as eleições: “Obviamente, demito-o”. Esta
frase, que foi também a sua sentença de morte, não apareceria no dia seguinte
nas primeiras páginas daqueles dois jornais como seria normal com uma intervenção
deste teor, mas apareceram no DN as referências aos milhares de
telegramas recebidos em apoio de Salazar e contra a frase de Delgado. Escondida
numa página interior dos dois jornais e, semeada de comentários pitorescos
sobre as reações da assistência, aparecia a frase de Humberto Delgado. O
Século referia na primeira página de 11 de maio um regime militar curto
preconizado por Delgado mas não a célebre frase.
O jornalismo português em 1958
era um jornalismo feito “sob a tutela da
censura”, como refere Ana Cabrera em “Imprensa em Portugal: uma história”, com
quase todos os jornais a serem órgãos quase oficiosos do regime. Durante esta
campanha eleitoral, as páginas destes jornais para a campanha de Delgado eram
quase sempre entre a 6 e a 9, nunca a primeira, em que aparecia em vários dias o
candidato do regime, Américo Thomaz.
Só o Diário de Lisboa (DL) e o Diário Popular
(DP) se iam aproximando a custo do que hoje consideramos ser o jornalismo neutro, dando
destaque aos diferentes candidatos e às suas ideias. Só o Diário Popular trouxe para a primeira página a “frase assassina” de Delgado. Também só o Diário
Popular referia, mas sem adotar a ladainha laudatória de Salazar, de maneira
objetiva, a reação da União Nacional, partido “oficial” que considerava as frases
de Delgado uma “verdadeira afronta”. O DP ia entrevistando também ao longo
da campanha figuras das duas candidaturas, como por exemplo num dos dias Pinto Barriga (pela
UN) e António Sérgio (pela candidatura de Delgado). No entanto a censura não
permitiu em nenhum jornal a publicação das fotografias dos grandes banhos de
multidão de Delgado no Porto. O DL (Diário de Lisboa) estava mais perto das posições de
Humberto Delgado e mais próximo desta candidatura, mas com muitos conflitos e
manobras com a censura.
Arnaldo Trindade
faleceu a 8 de janeiro de 2024 com 89 anos e foi o grande impulsionador das
edições da chamada “música de intervenção” na editora Orfeu. Mas talvez o público
não saiba que ele, o “Senhor Orfeu”, começou a atividade de edição discográfica em 1956 com a publicação de discos de poesia declamados pelos
próprios autores. Gravou assim Miguel Torga, José Régio, Alberto de Serpa, Sophia
de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e outros.
No início
dos anos 60 começou a gravar também música, tendo gravado cantores como Adriano
Correia de Oliveira (ex. Trova do vento que passa) e José Afonso (ex. Cantares do Andarilho),
para além de música mais ligeira como Maria da Fé e o Conjunto António Mafra, por exemplo. Arnaldo Trindade era um empresário, não era revolucionário nem político, mas tinha
apreço por aquilo que era belo. Dizia ele (Visão-História nº 79): “…os músicos
tiveram sempre carta branca para fazer o que quisessem. Eu só não queria
panfletos. Panfletos, não! Poesia autêntica, boa, bem feita, e com uma segunda
linguagem que eles (os censores) não entendessem”. Os discos no princípio só
eram analisados após a publicação e podiam ser apreendidos. Depois, através da “pré-censura”,
os editores eram obrigados a mostrar os textos, o que supunha uma negociação
com a Censura. Mas, diz Arnaldo Trindade, quanto às letras, os censores muitas
vezes “não as entendiam”. “Nunca um Orfeu foi proibido”, afirmava Arnaldo Trindade.
O 25 de
Abril, para Arnaldo Trindade, foi “a maior alegria” da sua vida. Mas reconhece
que os cantores de intervenção perderam qualidade musical na altura devido ao
carácter panfletário de algumas gravações propostas à Orfeu após o 25 de Abril.
E recusou mesmo gravar certas coisas de José Afonso e Adriano porque a linha da
Orfeu não era meter-se na política “pequena”. Por exemplo, em “Foi na cidade do
Sado”, José Afonso implicava com um comício do PPD em Setúbal e em “Se vossa
excelência” Adriano Correia de Oliveira apoiava a greve da empresa Tabopan, em
Amarante. A Orfeu não alinhava neste tipo de intervenção e não gravou estas músicas.
Arnaldo Trindade
editou dois livros de poesia: “Jogos de xadrez e da vida” e “Commedia dell’arte”
e em outubro de 2023 gravou em disco os seus próprios poemas com a sua voz,
como havia feito com os grandes poetas nos anos 50.
Aqui fica
uma das músicas que a Orfeu gravou e que mais impacto teve no pré e pós-25 de Abril,
A morte saiu à rua, de José Afonso, uma homenagem a José Dias Coelho, pintor, morto pela PIDE em 19 de dezembro de 1961.