quarta-feira, 24 de abril de 2024

PRÉMIO EXPRESSÃO FAIA BRAVA 2023/24 Aqui fica o texto vencedor de Ana Escada Ramos


      Ana Sofia Escada Ramos, do 11º F, venceu o Prémio EXPRESSÃO Faia Brava 2023/24 na modalidade de Texto, como noticiámos na semana passada. Aqui fica o texto vencedor. Parabéns, Ana.

TAREFA:

      A vida contemporânea, que nos pede para olharmos para nós próprios acima de tudo, leva-nos a esquecermos a atenção devida aos nossos pais e avós, que são parte da mobília, dizemos nós. Muitas vezes a nossa vida está quase vazia de afetos, gestos e tempo para os nossos mais próximos, falhando assim como filhos e como netos. Num texto de opinião / crónica de 300 a 400 palavras, exprime a tua posição sobre a atenção a prestar aos que nos deram e continuam a dar a vida e os cuidados.

       Se alguma vez me perguntarem se me arrependo de alguma coisa não hesitarei em dizer que sim. Falhei aos que nunca me falharam, desiludi quem nunca me desiludiu, evitei quem nunca deixou de me dar prioridade e o mais triste de tudo é que não amei como queria os que sempre me deram colo.

      Vivo num mundo onde a aparência, a ambição desmedida e a cobiça são olhadas como a semente para uma vida dita perfeita. Vivo num mundo onde eu sou mais importante que tu e onde parece não haver espaço para o verdadeiro significado da palavra Amor. Esquecemo-nos com muita facilidade dos que nunca nos faltaram e damo-nos conta que o tempo corre sem quase nunca nos preocuparmos em dar resposta a esse avanço galopante.

       Há uma altura na nossa vida em que olhamos à nossa volta e nos apercebemos que todos aqueles que nos deram asas partem agora para outro lugar. Apercebemo-nos que a hora de nos deixarem chegou e que ficou uma resma de coisas importantes por dizer. Deixam de nos dizer “bom dia” e de nos abraçar quando mais ninguém o faz. Deixam de nos aquecer os pés quando está frio e de nos comprar um casaco quente porque o tempo vai arrefecer. Deixam de ser casa e passam a ser memória.

       Passamos a vida em busca de algo que nem nós sabemos o que é. Chamam-lhe felicidade. Dizem que é um sentimento de dever cumprido e de sonhos concretizados, mas e se a nossa felicidade dependesse dos que nos são tanto? Não seríamos todos mais felizes? Acredito que sim.

       Queremos viver o futuro tão depressa que nos esquecemos do presente, de tal forma que seremos apenas migalhas numa mesa de Natal vazia. Esquecemo-nos do principal – do Amor. Esquecemo-nos de como se fazia a sopa da mãe e o arroz doce da avó. Não saberemos nunca mais a que cheiravam todas aquelas roupas pretas da nossa fiel amiga nem como acabava aquela canção de embalar. O tempo apagou tudo isso e o coração guarda apenas uma ténue linha de sorrisos.

       E é assim que o tempo passa. É assim que quem não o merece nos vai perdendo. É assim que o Amor se perde. 

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