O Comércio do Funchal foi um dos jornais mais
lutadores contra a censura antes do 25 de Abril de 1974, sob a direção de
Vicente Jorge Silva (VJS), que mais tarde faria carreira no EXPRESSO e no PÚBLICO. O
jornal publicava-se em papel cor-de-rosa. Vicente Jorge Silva contou ao PÚBLICO
em 2014 que, ao contrário do que se passava nos jornais de Lisboa e Porto, a censura no Funchal se fazia em diálogo direto com o censor que
era possível de tentar convencer. E muitos artigos acabavam por ser autorizados
ou pelo menos não completamente desfigurados.
Quando se comparavam em 1973 a situação do Continente
e da Madeira, com uma taxa de mortalidade infantil de 70 por 1000 nascidos (50
no Continente) ou com a taxa de 43 médicos por 100.000 habitantes (contra 95 no
Continente), tudo era cortado. Ou ainda por exemplo o artigo sobre a inauguração em
setembro de 1973 do Hospital do Funchal, cortado por inteiro. Num artigo sobre uma fábrica, a
referência à obrigatoriedade de fazer horas extraordinárias por parte das
operárias para evitar o despedimento levava ao corte de toda a notícia.
No entanto, reconhece VJS que o isolamento da Madeira
levava a um menor empenho dos censores, já que o campo de ação do jornal era
mais curto. Esses ares de liberdade no entanto davam asas ao jornal que era
assinado por muitas pessoas no Continente. Isto ocorreu sobretudo a partir da
entrada de Marcello Caetano (1968), chegando aos 15.000 exemplares.
Aconteceu no entanto que nos dias a seguir ao 25 de
Abril na Madeira as coisas não mudavam e a PIDE e as autoridades não davam
margem de manobras às manifestações, sendo que na RTP e na Emissora Nacional
não se deram notícias do golpe nos dias 25 e 26 de abril, sem passar os
noticiários nacionais. A partir do dia 27 o golpe foi noticiado mas sem destaque.
O governador militar, brigadeiro Lopes da Eira, portava-se como se nada
fosse, “empenhado em que a transformação política que se registou no país não
afete a vida da Madeira”, dizia ele, como referiu Vicente Jorge Silva. Foi sobretudo após
o 1º de Maio que a revolução chegou à Madeira, inclusive com manifestações
contra a permanência de Américo Thomaz (ex-Presidente da República) na Madeira
antes de irem para o Brasil.
Mais pormenores neste artigo do PÚBLICO.
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