sexta-feira, 26 de abril de 2024

CORTADO PELA CENSURA - 13 No Funchal tudo era diferente

 

O Comércio do Funchal foi um dos jornais mais lutadores contra a censura antes do 25 de Abril de 1974, sob a direção de Vicente Jorge Silva (VJS), que mais tarde faria carreira no EXPRESSO e no PÚBLICO. O jornal publicava-se em papel cor-de-rosa. Vicente Jorge Silva contou ao PÚBLICO em 2014 que, ao contrário do que se passava nos jornais de Lisboa e Porto, a censura no Funchal se fazia em diálogo direto com o censor que era possível de tentar convencer. E muitos artigos acabavam por ser autorizados ou pelo menos não completamente desfigurados.

Quando se comparavam em 1973 a situação do Continente e da Madeira, com uma taxa de mortalidade infantil de 70 por 1000 nascidos (50 no Continente) ou com a taxa de 43 médicos por 100.000 habitantes (contra 95 no Continente), tudo era cortado. Ou ainda por exemplo o artigo sobre a inauguração em setembro de 1973 do Hospital do Funchal, cortado por inteiro. Num artigo sobre uma fábrica, a referência à obrigatoriedade de fazer horas extraordinárias por parte das operárias para evitar o despedimento levava ao corte de toda a notícia.

No entanto, reconhece VJS que o isolamento da Madeira levava a um menor empenho dos censores, já que o campo de ação do jornal era mais curto. Esses ares de liberdade no entanto davam asas ao jornal que era assinado por muitas pessoas no Continente. Isto ocorreu sobretudo a partir da entrada de Marcello Caetano (1968), chegando aos 15.000 exemplares.

Aconteceu no entanto que nos dias a seguir ao 25 de Abril na Madeira as coisas não mudavam e a PIDE e as autoridades não davam margem de manobras às manifestações, sendo que na RTP e na Emissora Nacional não se deram notícias do golpe nos dias 25 e 26 de abril, sem passar os noticiários nacionais. A partir do dia 27 o golpe foi noticiado mas sem destaque. O governador militar, brigadeiro Lopes da Eira, portava-se como se nada fosse, “empenhado em que a transformação política que se registou no país não afete a vida da Madeira”, dizia ele, como referiu Vicente Jorge Silva. Foi sobretudo após o 1º de Maio que a revolução chegou à Madeira, inclusive com manifestações contra a permanência de Américo Thomaz (ex-Presidente da República) na Madeira antes de irem para o Brasil.

Mais pormenores neste artigo do PÚBLICO.

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