Eça
censurado
Nos
anos antes do 25 de Abril de 1974, a Censura desapareceu com esse nome, tendo adotado em 1972 a
designação de Exame Prévio mas com idênticas funções. Nos jornais a partir
deste ano era proibido colocar-se na primeira página a referência “Visado pela
Censura”. Tudo parecia assim normal mas não era. Até mesmo um texto de Eça de
cem anos antes podia ser censurado.
Aconteceu no semanário
Notícias da Amadora, um jornal que tinha um controlo muito próximo dos serviços
da censura e de intimidação do seu diretor, Orlando Gonçalves. Numa determinada
altura de 1970 em que o jornal quis publicar umas “Farpas” de Eça de Queirós
sobre a necessidade de modificar a Carta Constitucional (“A Reforma da Carta”),
os serviços de Censura consideraram que a introdução, ao fazer menção expressa
de que a realidade era diferente da da Constituição de 1933, podia ser
considerada um ataque à mesma. O censor anotou “Esta introdução não pode ser
aceite nos termos em que está escrita”. E assim foram retirados os seguintes
dois parágrafos:
“Desde já advertimos,
para conveniente apreciação, que nem Eça de Queirós é jornalista dos nossos
tempos nem a Carta Constitucional tem algo de comum com a presente Constituição
da República Portuguesa”.
“As linhas que se seguem
foram escritas no último quartel do século passado”.
Então entre os dois
parágrafos o diretor foi obrigado a incluir este texto escrito por si: “Nascido
na segunda metade do século XIX, atingido o entendimento em hora em que as
paixões se entrechocavam, o autor de “A Relíquia” foi um crítico atento e
lúcido da sociedade do seu tempo.”
A Censura cortava,
proibia e às vezes, como neste caso, obrigava mesmo a introduzir alterações.
Neste caso, com a demora na apreciação pela Censura, o texto teve que ficar para a semana seguinte.
Este exemplo foi retirado de um trabalho magnífico de recolha de textos censurados no NOTÍCIAS DA AMADORA através do projeto “Censura 16” da Plataforma Casa Comum através da Fundação Mário Soares. Se quiser descobrir mais siga os diferentes números.
Sem comentários:
Enviar um comentário