Chico Buarque encontra-se ligado ao 25 de Abril de 1974 por duas músicas que ele compôs e que punham a pensar os brasileiros sobre o desígnio político do Brasil e de Portugal. Em 1973, aparece “Fado tropical” em que, de maneira enigmática, projetava uma mudança neste país à beira mar plantado: “Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, /ainda vai tornar-se um imenso Portugal”. Esta música ganhou muito mais sentido depois de Abril de 1974, altura em que a música é proibida no Brasil (em ditadura), num sinal de que aquela letra era “uma afirmativa muito subversiva e perigosa”, como Chico Buarque confirmava.
Em 1975, depois das convulsões do pós-25 de Abril, “Tanto mar” é apenas editado com a letra que conhecemos em Portugal (em single), sendo editado em instrumental no Brasil. Em 1978, a versão cantada aparece também no Brasil, mas agora com uma letra transformada já que a sequência de acontecimentos a partir do 25 de novembro de 1975 inquietavam Chico Buarque, pelo que o título no disco de 1978 aparece como “Tanto mar (2ª edição - revista)”.
Aqui fica a letra que todos nós reconhecemos em duas versões:
Versão de 1975:
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Versão de 1978:
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
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