O Festival RTP da Canção foi nos anos 70 uma instituição que acompanhou a evolução política no pós-revolução. A canção que foi senha no 25 de Abril (“E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho) foi a vencedora do Festival da Canção de 1974, realizado a 7 de março, um mês e meio antes do golpe. Na altura, grande parte da crítica achava a canção inferior em qualidade a outras apresentadas pelo mesmo cantor em 1970, 1971 e 1973. Por outro lado, José Cid e os Gemini com “O dia em que o rei fez anos” e “Imagens”, que participaram no concurso, tinham uma apreciação mais positiva entre os críticos. O que há a realçar é que nenhuma das músicas desse ano tinha carga política. Ary dos Santos ficara também esse ano sem concorrer para dar o lugar a outros.
Em 1975, o panorama foi muito diferente. Era o primeiro Festival em liberdade e quase todas as 10 canções inseriam lá dentro a ideologia da época com poemas em que a palavra “povo” era essencial. Depois de um ano em que as sessões de “canto livre” enxamearam por todo o país na chamada “dinamização cultural”, era natural que o Festival RTP da Canção fosse contagiado. Venceu em 22 de março de 1975 a canção “Madrugada” que era cantada por Duarte Mendes, um capitão do 25 de Abril, com uma letra que indiretamente falava da revolução e da esperança que ela trazia. A grande novidade foi a introdução de canções militantes como a do GAC - Grupo de Ação Cultural com a canção “Alerta” a defender a ditadura do proletariado e a democracia popular e a apelar “Às armas”. Esta ficou em 5º lugar e o vocalista principal do grupo era José Mário Branco, esse mesmo. "Madrugada ficou depois em 16º lugar (entre 19) no Festival da Eurovisão.
Maria Fernanda Fonseca refere no blogue festivaiscancao.wordpress.com que nesse ano, entre as dez canções que estavam a concurso, "não houve uma que fugisse ao tema da intervenção e da revolução”, acrescentando depois que “visualmente também tudo estava mudado, os homens largaram o fato e a gravata, vestiam de uma forma muito simples, deixaram crescer o cabelo, a barba e o bigode. Esta era uma das formas de se mostrarem livres e cheios de força”.
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