quinta-feira, 14 de março de 2024

MÚSICAS DE ABRIL - 7 A "Trova do vento que passa", de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre, despertou consciências nos anos 60



 

Adriano Correia de Oliveira andou nos anos 60 no círculo de José Afonso, Rui Pato (guitarrista) e António Portugal (cunhado de Manuel Alegre). Fazia na altura uma espécie de balada sucedânea da canção / fado de Coimbra mas virada para as letras de qualidade e a afirmação e contestação política. Saiu assim a “Trova do tempo que passa” que teve um êxito extraordinário logo em 1963, com poema de Manuel Alegre. Foi tocada pela primeira vez nesse ano na Faculdade de Medicina de Lisboa. Era, segundo o guitarrista Rui Pato, “um novo género musical que ainda hoje é conhecido em Coimbra como a trova”.

Rui Pato refere na Visão-História de outubro / novembro de 2023 que a experiência de trabalho com Adriano Correia de Oliveira era muito aliciante, já que a voz dele era qualquer coisa de excecional, era muito afetivo e disponível. No entanto, ao ser “um amigalhão”, muitas vezes era pouco disciplinado, tendo sido também atingido pelo alcoolismo, que não conseguia controlar e que o levou à morte.

A “Trova do Vento que passa” foi escrita por Manuel Alegre no café Mandarim de Coimbra, ao ver dois pides que ali estavam a vigiá-lo a ele e a outro. Inventou então aqueles versos, que segredou ao ouvido de Adriano Correia de Oliveira, que lhe disse que os escrevesse já porque “esses versos vão ficar para sempre”. Na preparação para a festa de receção aos caloiros na Fac. Medicina de Lisboa, o António Portugal começou na guitarra a fazer a música da “Trova” e a canção foi tocada na festa. Manuel Alegre revela em 2023, 60 anos depois: “Quando o Adriano acabou de cantar, aquilo foi um delírio”.

TROVA DO VENTO QUE PASSA (Manuel Alegre e Adriano C. Oliveira)

Pergunto ao vento que passa

Notícias do meu país

E o vento cala a desgraça

O vento nada me diz.

E o vento cala a desgraça

O vento nada me diz.


Mas há sempre uma candeia

Dentro da própria desgraça

Há sempre alguém que semeia

Canções no vento que passa.

Há sempre alguém que semeia

Canções no vento que passa.


Mesmo na noite mais triste

Em tempo de servidão

Há sempre alguém que resiste

Há sempre alguém que diz não.

Há sempre alguém que resiste

Há sempre alguém que diz não.

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