Adriano Correia de Oliveira andou nos anos 60 no
círculo de José Afonso, Rui Pato (guitarrista) e António Portugal (cunhado de
Manuel Alegre). Fazia na altura uma espécie de balada sucedânea da canção /
fado de Coimbra mas virada para as letras de qualidade e a afirmação e
contestação política. Saiu assim a “Trova do tempo que passa” que teve um êxito
extraordinário logo em 1963, com poema de Manuel Alegre. Foi tocada pela
primeira vez nesse ano na Faculdade de Medicina de Lisboa. Era, segundo o
guitarrista Rui Pato, “um novo género musical que ainda hoje é conhecido em
Coimbra como a trova”.
Rui Pato refere na Visão-História de outubro /
novembro de 2023 que a experiência de trabalho com Adriano Correia de Oliveira
era muito aliciante, já que a voz dele era qualquer coisa de excecional, era muito
afetivo e disponível. No entanto, ao ser “um amigalhão”, muitas vezes era pouco
disciplinado, tendo sido também atingido pelo alcoolismo, que não conseguia
controlar e que o levou à morte.
A “Trova do Vento que passa” foi escrita por Manuel Alegre no café Mandarim de Coimbra, ao ver dois pides que ali estavam a vigiá-lo a ele e a outro. Inventou então aqueles versos, que segredou ao ouvido de Adriano Correia de Oliveira, que lhe disse que os escrevesse já porque “esses versos vão ficar para sempre”. Na preparação para a festa de receção aos caloiros na Fac. Medicina de Lisboa, o António Portugal começou na guitarra a fazer a música da “Trova” e a canção foi tocada na festa. Manuel Alegre revela em 2023, 60 anos depois: “Quando o Adriano acabou de cantar, aquilo foi um delírio”.
TROVA DO VENTO QUE PASSA (Manuel Alegre e Adriano C. Oliveira)
Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.
Há sempre alguém que semeia
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