O GAC – Grupo de Ação
Cultural
O GAC – Vozes na Luta foi um grupo musical que nasceu
logo em maio de 1974 como um grupo de intervenção para poder participar em sessões de dinamização cultural e política por todo o país. Em
janeiro de 1975 o grupo ganharia um apêndice, o GAC-Norte, para facilitar a
intervenção a norte. Acabaria em 1979.
Foi após um concerto em meados de maio de 1974 que José Mário
Branco, Afonso Dias, Tino Flores e Fausto criaram o grupo, aglutinando depois outras
vozes para os coros. Durante o verão e o outono de 1974 participaram em
inúmeras ações políticas, algumas delas de índole laboral, de apoio a greves,
tentativas de saneamentos, ações contra os fiscais das câmaras nos bairros
municipais, etc. São exemplos as canções “A luta das Conserveiras” (de apoio à
greve na Fábrica Júdice Fialho, em Portimão) ou “A Luta dos Trabalhadores do
Jornal do Comércio” (de apoio ao saneamento de Carlos Machado da direção do
jornal). As músicas juntavam o tom de música de combate e as harmonias populares.
O grupo, situado na extrema-esquerda, foi-se afastando progressivamente do PCP
(Partido Comunista Português) e participou mesmo na criação da UDP (União
Democrática Popular), de tendência mais extremista e maoísta. Isso provocou a
primeira cisão, com a saída de Fausto e Tino Flores. O grupo nessa altura
dizia-se independente dos partidos mas afirmava também claramente o seu apoio à UDP.
A voz de José Mário Branco ficou claramente associada
às melodias do GAC, tendo-se mantido no grupo até 1976, altura em que sai por
cansaço daquela fórmula, seguindo a sua carreira a solo. Em 1975, o GAC tem um momento importante: o grupo
concorre ao Festival RTP da Canção e fica em 5º lugar com o tema “Alerta!”, uma canção completamente fora do nacional-cançonetismo dominante no Festival. Ao
longo da sua carreira de 5 anos (até 1979), publicou 4 álbuns: “A Cantiga é uma
arma”, “Pois canté”, “E vira bom!” e “Ronda de Alegria”, quase sempre com
letras radicais e panfletárias de extrema-esquerda e harmonias vocais muito conseguidas, alternando aqui e ali com melodias de índole popular.
A música mais conhecida do GAC, com letra, música e
voz principal de José Mário Branco, é “A cantiga é uma arma”, que podem ouvir acima no Youtube. Aqui fica a
letra:
Ref.
A cantiga é uma arma
Eu bem sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Há quem cante por
interesse
Há quem cante por
cantar
Há quem faça profissão
De combater a cantar
E há quem cante de
pantufas
P'ra não perder o
lugar
Ref.
A cantiga é uma arma
Eu bem sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
O faduncho choradinho
De tabernas e salões
Semeia só desalento
Misticismo e ilusões
Canto mole em letra
dura
Nunca fez revoluções
Ref.
A cantiga é uma arma
Eu bem sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Se tu cantas a reboque
Não vale a pena cantar
Se vais à frente
demais
Bem te podes engasgar
A cantiga só é arma
Quando a luta
acompanhar
Ref.
A cantiga é uma arma
Eu bem sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Uma arma eficiente
Fabricada com cuidado
Deve ter um mecanismo
Bem preciso e oleado
E o canto, como a arma
Deve ser bem fabricado
Ref.
A cantiga é uma arma
Eu bem sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
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