quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

MÚSICAS DE ABRIL - 3 O GAC e as músicas de combate político - A CANTIGA É UMA ARMA

 

O GAC – Grupo de Ação Cultural

O GAC – Vozes na Luta foi um grupo musical que nasceu logo em maio de 1974 como um grupo de intervenção para poder participar em sessões de dinamização cultural e política por todo o país. Em janeiro de 1975 o grupo ganharia um apêndice, o GAC-Norte, para facilitar a intervenção a norte. Acabaria em 1979.

Foi após um concerto em meados de maio de 1974 que José Mário Branco, Afonso Dias, Tino Flores e Fausto criaram o grupo, aglutinando depois outras vozes para os coros. Durante o verão e o outono de 1974 participaram em inúmeras ações políticas, algumas delas de índole laboral, de apoio a greves, tentativas de saneamentos, ações contra os fiscais das câmaras nos bairros municipais, etc. São exemplos as canções “A luta das Conserveiras” (de apoio à greve na Fábrica Júdice Fialho, em Portimão) ou “A Luta dos Trabalhadores do Jornal do Comércio” (de apoio ao saneamento de Carlos Machado da direção do jornal). As músicas juntavam o tom de música de combate e as harmonias populares. O grupo, situado na extrema-esquerda, foi-se afastando progressivamente do PCP (Partido Comunista Português) e participou mesmo na criação da UDP (União Democrática Popular), de tendência mais extremista e maoísta. Isso provocou a primeira cisão, com a saída de Fausto e Tino Flores. O grupo nessa altura dizia-se independente dos partidos mas afirmava também claramente o seu apoio à UDP.

A voz de José Mário Branco ficou claramente associada às melodias do GAC, tendo-se mantido no grupo até 1976, altura em que sai por cansaço daquela fórmula, seguindo a sua carreira a solo. Em 1975, o GAC tem um momento importante: o grupo concorre ao Festival RTP da Canção e fica em 5º lugar com o tema “Alerta!”, uma canção completamente fora do nacional-cançonetismo dominante no Festival. Ao longo da sua carreira de 5 anos (até 1979), publicou 4 álbuns: “A Cantiga é uma arma”, “Pois canté”, “E vira bom!” e “Ronda de Alegria”, quase sempre com letras radicais e panfletárias de extrema-esquerda e harmonias vocais muito conseguidas, alternando aqui e ali com melodias de índole popular.

A música mais conhecida do GAC, com letra, música e voz principal de José Mário Branco, é “A cantiga é uma arma”, que podem ouvir acima no Youtube. Aqui fica a letra:

Ref.

A cantiga é uma arma

Eu bem sabia

Tudo depende da bala

E da pontaria

 

Há quem cante por interesse

Há quem cante por cantar

Há quem faça profissão

De combater a cantar

E há quem cante de pantufas

P'ra não perder o lugar

 

Ref.

A cantiga é uma arma

Eu bem sabia

Tudo depende da bala

E da pontaria

 

O faduncho choradinho

De tabernas e salões

Semeia só desalento

Misticismo e ilusões

Canto mole em letra dura

Nunca fez revoluções

 

Ref.

A cantiga é uma arma

Eu bem sabia

Tudo depende da bala

E da pontaria

 

Se tu cantas a reboque

Não vale a pena cantar

Se vais à frente demais

Bem te podes engasgar

A cantiga só é arma

Quando a luta acompanhar

 

Ref.

A cantiga é uma arma

Eu bem sabia

Tudo depende da bala

E da pontaria

 

Uma arma eficiente

Fabricada com cuidado

Deve ter um mecanismo

Bem preciso e oleado

E o canto, como a arma

Deve ser bem fabricado

 

Ref.

A cantiga é uma arma

Eu bem sabia

Tudo depende da bala

E da pontaria

 

 

 

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