Ao
longo do Estado Novo a atividade de edição de livros esteve sempre muito
cercada pela censura, às vezes autoinfligida. Casos flagrantes de perseguição
política a escritores foram por exemplo a Manuel da Fonseca, Miguel Torga,
Manuel Alegre e às 3 Marias (Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria
Isabel Barreno). Demos alguns exemplos.
Às "Novas
Cartas Portuguesas", de Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel
Barreno, criticava-se o seu carácter imoral e mesmo pornográfico, tendo as
escritoras ido a tribunal, depois de proibida pela censura. A obra é um
conjunto de textos feministas sem autoria individualizada, assumindo as 3
autoras a autoria coletiva da obra. A obra contestava também nos seus textos com
linguagem e tom muito duros e sarcásticos o patriarcado e os comportamentos machistas humilhantes para as mulheres. Entretanto o processo foi suspenso e só se concluiu pela
absolvição já depois do 25 de Abril.
Outro
exemplo é o de “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes, que foi publicado em 1941 e autorizado
em 1942. Trata de uma história que tem como fundo a vida miserável das populações do Ribatejo, centrando-se nas
crianças. Embora tivesse sido autorizado em 1942, os Serviços da Censura, em 1966
(na 5ª edição do livro), equacionaram a sua proibição mas, considerando que o
livro deveria ter sido proibido nos anos 40, proibi-lo em 1966 só daria mais
força ao livro e aos contestatários do regime. E por isso a Censura deixou
passar a 5ª edição.
Um
terceiro caso é o do nosso Vergílio Ferreira. Em 1947, o livro “Vagão J” foi proibido
pela Comissão de Censura, tendo sido destruídos quase todos os exemplares
editados (cerca de 1000). Diz o censor: “Parece que o autor esteve em qualquer
vila ou aldeia, e escolheu para protagonista do seu romance a família mais
asquerosa do povoado — a família Borralho. É uma família de degenerados, sem
escrúpulos, sem dignidade.”. Por isso aconselhava a sua não-publicação.
Querem ver outros exemplos? Vejam-nos no site da Universidade de Coimbra a propósito de uma exposição
“Livros Proibidos durante o Estado Novo”, da Biblioteca Geral da Univ. Coimbra.
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