sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CORTADO PELA CENSURA - 3 A Censura e os Livros antes do 25 de Abril

 

Ao longo do Estado Novo a atividade de edição de livros esteve sempre muito cercada pela censura, às vezes autoinfligida. Casos flagrantes de perseguição política a escritores foram por exemplo a Manuel da Fonseca, Miguel Torga, Manuel Alegre e às 3 Marias (Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno). Demos alguns exemplos.

Às "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, criticava-se o seu carácter imoral e mesmo pornográfico, tendo as escritoras ido a tribunal, depois de proibida pela censura. A obra é um conjunto de textos feministas sem autoria individualizada, assumindo as 3 autoras a autoria coletiva da obra. A obra contestava também nos seus textos com linguagem e tom muito duros e sarcásticos o patriarcado e os comportamentos machistas humilhantes para as mulheres. Entretanto o processo foi suspenso e só se concluiu pela absolvição já depois do 25 de Abril.

Outro exemplo é o de “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes, que foi publicado em 1941 e autorizado em 1942. Trata de uma história que tem como fundo a vida miserável das populações do Ribatejo, centrando-se nas crianças. Embora tivesse sido autorizado em 1942, os Serviços da Censura, em 1966 (na 5ª edição do livro), equacionaram a sua proibição mas, considerando que o livro deveria ter sido proibido nos anos 40, proibi-lo em 1966 só daria mais força ao livro e aos contestatários do regime. E por isso a Censura deixou passar a 5ª edição.

Um terceiro caso é o do nosso Vergílio Ferreira. Em 1947, o livro “Vagão J” foi proibido pela Comissão de Censura, tendo sido destruídos quase todos os exemplares editados (cerca de 1000). Diz o censor: “Parece que o autor esteve em qualquer vila ou aldeia, e escolheu para protagonista do seu romance a família mais asquerosa do povoado — a família Borralho. É uma família de degenerados, sem escrúpulos, sem dignidade.”. Por isso aconselhava a sua não-publicação.

Querem ver outros exemplos? Vejam-nos no site da Universidade de Coimbra a propósito de uma exposição “Livros Proibidos durante o Estado Novo”, da Biblioteca Geral da Univ. Coimbra.

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