quinta-feira, 20 de julho de 2017

Metamorfoses





Com outra vida
Não posso dizer que vou fazer falta na casa onde estou, se me for embora, porque não é verdade. Se tivesse acordado com esta forma há 20 anos, podiam ter sentido a minha falta. Mas não foi há 20 anos, foi hoje. 
Tinha tido um sonho estranho, do qual já me esqueci, mas senti também que nunca tinha dormido tão bem. Não acordei em minha casa, mas sim numa biblioteca de uma enorme mansão, no alto de uma colina. Parecia ter mais de quinhentos anos, mas quem vivia lá não era assim tão velho. Era um casal jovem que por sorte tinha ganhado o Euromilhões e tinha um filho rebelde de sete anos.
Eu estava baralhada e fui falar com um livro meu vizinho sobre o que podia ter-me acontecido. Ele não era propriamente esperto e não podia ajudar-me, pois era especializado em piadas. Olhei em volta para ver quem poderia ser-me útil e não foi difícil encontrar o livro certo. Era o único que não estava preso numa prateleira. Estendido e aberto, estava sobre uma grande mesa, mas não parecia contente com isso. Perguntei-lhe o que estava a fazer ali, e porque é que estava aberto se ninguém o estava a ler. Ele respondeu que antigamente tudo era melhor. Não havia um dia em que a biblioteca não fosse usada, mas agora era tudo ao contrário.
O jovem casal e o filho não gostavam de ler, o que era um desperdício, já que a biblioteca devia ser a maior divisão de toda a mansão. Eu perguntei-lhe porque é que eles tinham perdido o gosto pela leitura, mas o grande livro disse que eles nunca tinham ido à biblioteca. Simplesmente não gostavam de ler. O livro disse também que aquela pequena família só tinha comprado a casa há dois anos e que, antes deles, tinha vivido lá um velho casal que adorava ler. Mas eles tinham começado a ficar pobres e uma casa tão grande ficava demasiado cara. O casal mudou-se para uma pequena casa na aldeia e a mansão foi vendida ao jovem casal. Desde esse dia, a biblioteca nunca mais foi usada.
Eu comecei a pensar em mim. Quando era humana também nunca tinha valorizado muito os livros, mas aquela mansão era o exemplo de que isso não devia fazer-se.
Agora, sabia o que sentia um livro quando isso acontecia, e não era uma boa sensação. A partir desse dia decidi finalmente começar a ler, porque nunca é tarde para aprender. 

Catarina Matias Calçada  - 6º C

 


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