quinta-feira, 2 de maio de 2024

MÚSICAS DE ABRIL - 14 Manuel Alegre, o Poeta de Abril

 

Manuel Alegre (Foto Jornal Nota)


Manuel Alegre foi o poeta “político” mais celebrizado em canções ligeiras antes e após o 25 de Abril. Desde Adriano Correia de Oliveira, até José Afonso, Amália Rodrigues e Luís Cília, muitos cantores acharam essencial pegar nos ritmos da poesia de Manuel Alegre. O poeta dizia mesmo que havia uma “poética da Mudança” e que era nessa perspetiva que ele avaliava a sua poesia e a sua integração no movimento musical.

Nascido em 1936, desde cedo se envolveu nas lutas estudantis e na contestação ao regime. Fez o serviço militar sucessivamente nos Açores e Angola, onde desenvolveu operações de oposição ao regime ao mesmo tempo que conhecia a intelectualidade angolana (ex. J. Luandino Vieira). Em 1964 exila-se em Argel, onde passa dez anos. No pós-25 de Abril desenvolveu atividade política no Partido Socialista, tendo desempenhado as funções de deputado, candidatando-se mais tarde em 2006 e 2011 a Presidente da República.

Exemplos dos seus poemas musicados são “Pedro Soldado”, “Trova do vento que passa”, “Exílio”, “Poisa a espingarda, irmão”, “E alegre se fez triste”, “Canção tão simples”, “Canção com lágrimas”, “Corpo renascido”, “As mãos”, cantados por Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Francisco Fanhais, Amália Rodrigues e outros.

Aqui fica o poema “Pedro Soldado” cantado por Manuel Freire: 

Já lá vai Pedro soldado

Num barco da nossa armada

E leva o nome bordado

Num saco cheio de nada

Triste vai Pedro soldado

 

Branca rola não faz ninho

Nas agulhas do pinheiro

Não é Pedro marinheiro

Nem o mar é seu caminho

 

Nem anda a branca gaivota

Pescando peixes em terra

Nem é de Pedro essa roda

Dos barcos que vão à guerra

 

Onde não anda ceifeiro

Já o campo se faz verde

E em cada hora se perde

Cada hora que demora

Pedro no mar navegando

 

Não é Pedro pescador

Nem no mar vindimador

Nem soldado vindimando

Verde vinha vindimada

Triste vai Pedro soldado

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