sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

CORTADO PELA CENSURA - 4 A Censura até com as palavras cruzadas se metia

Marcos Cruz, aliás Mercedes Balsemão
(Foto Caras)
 


Marcos Cruz é desde o início do EXPRESSO (1973) o autor das palavras cruzadas do jornal. Marcos Cruz é o pseudónimo da esposa do dono do jornal, Mercedes Pinto Balsemão. O que é curioso é que, naquele ano e pouco da vida do EXPRESSO antes do 25 de Abril de 1974, até com as Palavras Cruzadas a Censura se metia. Aconteceu quando Marcos Cruz colocou este enunciado para uma palavra de 9 letras: “Principal atividade a que se dedica o atual governador de Lisboa”, referindo-se a Afonso Marchueta, personalidade caricata que gostava de “inaugurar” obras e obras. Para esta solução a censura obrigou a autora a procurar outro enunciado e ficou “abrir festivamente”, tendo perdido assim qualquer dose de humor.

Quando se tratava de palavras, os jornais tinham que ser cuidadosos e não podiam por exemplo utilizar a palavra “greve”, mesmo que a atividade fosse mesmo esta. A greve estava proibida e não existia como greve. Em junho de 1973, a greve dos pescadores em Matosinhos aparecia assim descrita no EXPRESSO: “Dois meses depois, continua por resolver o problema que opõe os 1600 pescadores de sardinha, de Matosinhos, aos armadores. (…) Não vão para o mar desde fins de março e a safra deste ano, que devia ter começado em 15 de abril, ainda está no ponto zero.”. (recolha do livro de José Pedro Castanheira, “O que a Censura cortou”)

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