O Livro Confinado
A biblioteca é o lugar de todos os livros, incluindo eu. Sim, eu sou um
livro. E hoje vou contar-vos a minha história.
Há algum tempo, era eu um livro muito pequeno, como alguns de vocês que
estão a ler esta história, e todos os meninos e meninas que me viam, pegavam em
mim e me levavam para suas casas.
Ainda me lembro da primeira vez que fui para casa de alguém, eu estava
muito entusiasmado e com muito medo ao mesmo tempo, mas quando lá cheguei não
conseguia pensar noutra coisa, a não ser em ver a cara daquela menina quando me
lesse do início ao fim. Todos os dias, quando a menina chegava a casa, depois
de fazer os trabalhos de casa, pegava em mim e devorava-me com os olhos até
chegar à minha última página. E lá ia eu, de novo, para a biblioteca, mas isso
já não importava, porque alguém tinha partilhado comigo a emoção de ler uma
história de mistério.
Os anos passaram-se e sempre havia meninos que me escolhiam, porque eu
sou um livro muito chamativo, com a capa sempre arranjadinha e colorida, e a
história que eu lhes conto tem muito mistério, mitologia e deixo os meninos em
suspense até ao fim.
Um dia, foi o dia do meu desespero, o dia em que um vírus horrível
apareceu, e as crianças tiveram de ficar isoladas e não puderam mais
requisitar-me, tinham que ficar em suas casas e assim não podiam vir buscar-me.
Eu fiquei com muita inveja dos manuais escolares (livros de estudo), pois todos
os dias as crianças os liam, porque os tinham em casa.
Durante muitos meses, nós livros da biblioteca, fomos abandonados e
esquecidos nas prateleiras a ganhar pó.
Eu estava desesperado, sabem, todos os livros por mais bonitos que sejam
e as nossas histórias por mais fantásticas que possam ser, há sempre meninos
que nos deitam ao chão, que rasgam ou pintam as nossas folhas, ou nos fazem
outro tipo de barbaridades, quer dizer faziam, antes ficava muito zangado com
este tipo de atitudes, mas agora, até disso tenho saudades, das crianças e das
suas reações quando me liam, apetece-me chorar embora não o consiga fazer. Fico
com uma grande mágoa. De tanto desespero, não é que eu já tentei fugir da
biblioteca? O grande problema é que a biblioteca estava fechada com muitos
cadeados e então não consegui fugir.
Um certo dia, ouvi um barulho que há muito tempo não ouvia. Quando olhei,
eu não podia acreditar, rapidamente disse aos outros livros para se prepararem,
pois, a biblioteca tinha aberto novamente. Eles não acreditaram em mim, então
disse-lhes para irem ver e eles ficaram paralisados de tanta alegria. O
pesadelo tinha acabado.
Eu fiquei tão feliz, tão feliz, porque eu mesmo, o livro mais novo da
biblioteca, fui o primeiro a sentir as suaves mãos de uma criança.
Daí em diante houve sempre meninos que me quiseram ler. E eu finalmente
conquistei, de novo, a alegria de viver.
Ana Filipa
Pimentel – 6.º A
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