As Letras Fugiram
Vou contar-vos uma história que se passou
comigo há bem pouco tempo. Estava uma tarde amena, daquelas em que não apetia ficar
fechado em casa. Como eu gosto muito de ler, resolvi ir à Biblioteca Municipal
Eduardo Lourenço ler a Viúva e o Papagaio, um livro da Porto Editora.
Nem imaginam o espanto com que fiquei ao
abrir o livro. Não tinha uma única letra, mas a minha professora de português tinha-me
dito que o livro continha um belo texto. Fui ter com a senhora bibliotecária e
perguntei-lhe:
– O livro não tem letras, porquê?
– Infelizmente não te sei responder. Mas… fica
descansado pois o livro será composto.
Resolvi
então ler Contos e Lendas de Portugal e do Mundo, outro livro da Porto Editora.
Infelizmente este livro também não tinha letras. Isto era já muito estranho. «Aqui
há gato!!! » – Pensei para comigo…
Abri
MAIS e MAIS livros …Confirmei as minhas suspeitas: nenhum tinha letras.
– Tenho de encontrar as letras; o
que será de mim sem livros! O QUE SERÁ DO COMHECIMENTO? O NOSSO PASSADO, SERÁ
ESQUECIDO? Foi acontecer-me isto a mim, eu que Adoro HISTÓRIA!!!
Inspirado
em Sherlock Holmes levantei as minhas hipóteses:
1. As
letras tinham fugido todas juntas;
2. O Vilão
Apagador malvado apagou os livros;
3. Alguém
roubou os livros e para ninguém dar conta colocaram réplicas só com imagens;
Comecei a investigar: peguei na minha lupa e
pus-me a ver se havia impressões digitais. Infelizmente as estantes tinham
acabado de ser limpas. De seguida verifiquei se havia aparas de borracha.
Também não! Por isso não podia ter sido o Vilão Apagador.
Só me restavam duas hipóteses; ou as
letras tinham fugido ou alguém roubara os livros e fizera uma réplica.
Passado algum tempo ouvi um choro, segui-o
e fui dar com uma vírgula pequeníssima que choramingava.
– Porque choramingas, pequena vírgula?
Ela respondeu:
– Eu choro porque os meus pais se esqueceram de
mim!!!
– Esqueceram-se de ti!? Para te levar para
onde?
– Para me levarem ao Rio Mondego tomar
banho! Todos os membros da família das letras e da pontuação foram, menos eu. –
Explicou a vírgula.
A vírgula chorava
cada vez mais, soluçando enquanto tentava falar comigo. Eu não sabia se a havia
de a mandar fazer menos barulho ou ajudá-la. Afinal estávamos numa biblioteca.
O mais estranho, é que estamos a falar de uma vírgula que não só chora como
também fala. QUANTO MAIS PENSAVA, MAIS ESTRANHA ME PARECIA A SITUAÇÃO.
«Vou fechar os olhos
e beliscar-me, talvez acorde». – Pensei.
Nada aconteceu e a
vírgula continuava a olhar para mim a chorar, esperando uma solução ou talvez
quem sabe apenas desabafar. Será que queria boleia até Coimbra? JÁ NÃO SABIA O
QUE PENSAR.
Passados alguns
minutos desta insólita situação e já um pouco refeito do susto resolvi
perguntar, embora com um bocado de medo da resposta:
– Mas o vosso passeio a Coimbra é a
primeira vez que acontece?
– Não! Uma vez por ano, no verão, as
letras e a pontuação esquecem as diferenças de classes e todos juntos vamos à
praia tomar banho. LETRA e PONTUAÇÃO que se prese anda lavada e cheirosa!
– Já fazem isso há muitos anos?! Como é
que nunca foram descobertas por ninguém?
– É uma tradição tão antiga que já nem sabemos
quando começou e/ou quem a inventou. Íamos por grupos! Este ano… houve um
desentendimento e foram todas as letras e pontuação de todos os livros ao mesmo
tempo.
– Por isso é que eu dei conta! – Concluí.
De repente na minha
cabeça fez-se luz. «Vou ajudá-la e recuperar as estórias de que eu tanto gosto
e que, tanta falta fazem no mundo.»
– Podes ficar descansada! Eu sei o caminho
e levo-te lá. Já podes parar de choramingar.
Passados vinte
minutos tínhamos chegado ao rio, a vírgula estava contente por voltar a estar
junto dos seus pais e eu estava feliz por ter sido útil.
Combinei com as letras que no dia seguinte
elas voltavam para os seus livros. Também teriam de se entender e dali em
diante irem de férias sempre repartidas e não todas juntas. Desta forma se as
pessoas dessem conta pensariam que tinha sido um erro de impressão ou que com o
uso do livro, as letras e/ou pontuação se tinham desvanecido.
Elas afirmaram que assim
fariam, por isso eu fui contente para a minha casa.
O dia seguinte nunca chegou. Ou melhor
dizendo; chegar chegou … mas não foi bem como estão a pensar. O dia seguinte
chegou para mim; para as letras e pontuação não. Toda esta aventura não passou
de um sonho lindo e divertido; nada mais ou talvez o símbolo da preocupação com
os testes que aí se avizinham novamente.
Como nunca devemos
desperdiçar uma boa estória eu resolvi passá-la para o papel e entreter-vos um
pouco tal como tantos livros da Porto Editora já o fizeram.
Espero que tenham gostado da minha estória!
Obrigado pela atenção!
Carlos Eduardo Marques Xavier – 5ºA, Nº3
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